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8 de outubro de 2012

Passos nas Nuvens 2

No dia seguinte, de manha fomos todos a missa. A minha mãe tinha estudado numa escola católica só de meninas até aos 17 anos, quando saiu para ir servir em casa de um casal que precisava de uma preceptora para as filhas, dando explicações e catequese. Esteve ai até quase aos vinte anos quando saiu para se casar com o meu pai. Assim , fazia questão de que a família fosse toda junta a missa de domingo pelo menos uma vez por mês e era também por essa razão que eu e o meu irmão estávamos na catequese.
No momento em que chegamos, o coro já estava pronto do lado esquerdo do altar. Dirigi-me de imediato para junto deles. Á medida que percorria a nave da igreja, sentindo o aroma inebriante a cera de velas e flores, misturado com o de inúmeras aguas de colonia e naftalina dos casacos das velhas senhoras sentadas nos bancos da frente, não conseguia deixar de ficar extasiada com a imensidão do espaço, com a beleza e candura nos rostos de  porcelana dos santos que ladeavam o altar. Tudo me parecia enorme e celestial no brilho tremulo das velas que dançavam no estonteante altar, reflectindo a ostentação de folha de ouro que cobria quase todo o interior da igreja. Mas para mim tudo era magia pura.
 Com os meus 11 anos a única razão, paralelamente ao facto de ser uma condição obrigatória da minha mãe, de eu gostar de frequentar a igreja, era o que sentia dentro dela. Era o que sentia quando cantava, juntando a minha voz ao coro. Ao primeiro acorde da viola, já o meu coração estava cheio de calor e alegria. Sentia um conforto automático, quase como um abraço  ternurento ao ouvir as nossas vozes elevarem-se na acústica mágica e ecoarem do altar até a porta principal.
Posicionei-me no meu lugar e lá estava o miúdo do dia anterior, mesmo a minha frente, de viola na mão. Olhou-me nos olhos e desta vez os seus lábios acompanharam num sorriso o brilho quente dos seus olhos.



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