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9 de outubro de 2012

Sonho Palavras Livres

Pergunto-me se algum dia alguém vai ouvir os gritos que a minha caneta risca no papel... Se o mundo algum dia vai conhecer as palavras que me rasgam.
Sonho, sei que sonho e que os sonhos também contam.
Mas estarei porventura sempre muda perante o mundo que se crispa no barulho constante da sua rotação?
Enrugado e macilento em contraste com as cores que o pintam.
Não quero ser mera letra solta, nota na pauta escondida num qualquer baú apodrecido no sótão das memórias.
Sonho, sei que sonho. Mas não é sonhar metade do caminho para ser?
Junto as palavras que me habitam, como rebanho tresmalhado que um pastor há muito abandonou.
Vejo-as percorrer os longos vales e serras que compõe a minha existência.
Por vezes quebro. Perco uma vogal que forma o meu grito.
E sonho, sei que sonho e que o sonho me acalenta.
Pergunto-me se verei a contracapa que me acolha.
Se poderei algum dia acariciar a lombada que me defina.
Desfolho em mim tudo o que sou. Página por página vou-me esvaindo, até nada mais restar do que um borrão de tinta.
Sonho? Já não sei se sonho. Sinto que sequei o tinteiro que me materializava. Embora em mim, flua um rio sem fim de palavras.
Sonho? Penso que sonho. Que ainda se não acabaram as folhas, por muito que as tentem incendiar.
Sonho? Sim sonho. E em sonhos sou palavra livre.


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