"Zora releu o bilhete. Havia nele algo de estranhamente familiar…como se o “pintor” a conhecesse…
A chuva tinha dado lugar a um temporal. O tempo parecia reflectir o seu estado de espírito. Um misto de sentimentos e dúvidas. No mesmo passeio onde tudo se iniciara, Zora baixou os braços e entregou-se ao temporal. Deixou a chuva penetrar a grossa camada de roupa e enregela-la. Durante alguns segundos, os suficientes para começar a tremer de frio, Zora desligou-se do mundo e do tempo e fundiu-se com a chuva e o vento...
Entrou em casa ainda a pingar. Ao olhar para o corredor foi surpreendida por algo escrito na parede. Accionou o interruptor e leu:
“Na procura da tua presença, descobri o vazio que afinal sempre aqui estivera.”
Cada vez mais confusa bateu à porta...
-Prometi pintar o teu rosto em palavras, mas ainda não inventaram palavras para o descrever. As palavras secam na nascente. Já te tinha dito…
- És tu!
-Ás vezes as coisas que estão mesmo a nossa frente, só se tornam visíveis quando estamos preparados para as enfrentar e receber.
Zora aproximou-se e beijou-o demoradamente. Já não sentia o frio das roupas que trazia, nem as lágrimas que naquele momento rolavam no rosto de ambos, até se fundirem numa só. "
In: "Pintar em Palavras"
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