"Eliana sentiu o peso de David atrás de si quando este se inclinou para lhe segredar ao ouvido , apoiando as mãos sobre as costas da cadeira onde ela se encontrava.
...
David tinha retirado uma porção de cabelo de Eliana, afastando-o do seu pescoço, para poder falar-lhe ao ouvido. Ela estremeceu ao sentir o toque dos seus dedos a tocar ao de leve no lóbulo da sua orelha. Sorriu e voltou de novo a sua atenção para o palco.
Dez minutos passados e foi intervalo. Saíram todos da sala deixando apenas Eliana e David que, puxou para si a cadeira do rapaz que estava ao lado de Eliana e que saíra.
-Acho que não deixámos indiferentes nem o público nem o júri. – começou David. – A julgar pela reacção, pelo menos o prémio atribuído pela plateia é nosso. E devo dizer-te que tenho a certeza que o prémio de melhor representação feminina vai para nós também… estiveste fantástica. Nos ensaios eras sempre convincente e incrível, mas hoje estiveste perfeita.
Eliana sentia-se corar e desejava que o contador da luz rebentasse naquele mesmo momento para poder ficar na protecçao da escuridão. David aproximou um pouco mais a cadeira, colocou as mão sobre os joelhos, palmas viradas para baixo, pendentes junto dos joelhos dela.
Eliana pensou que a qualquer momento elas lhe iram tocar, pelo que susteve a respiração, não ousando mover as pernas um milímetro que fosse.
David continuou.
-Houve um momento, quando entras-te com o vestido, em que eu tive dificuldade de me concentrar. Eu que nunca me perco da personagem. Quando estou em palco não sou eu, é a personagem. Sou fechado a tudo o que me rodeia. Mas tu quebras-te isso. Parecias envolta por uma aura, como se realmente fosse Adael ou um qualquer ser sobrenatural quem entrou em cena e não tu.
Eliana sentia os joelhos tremer devido á força que fazia para manter as pernas imóveis. David tinha ficado igualmente estático. As cadeiras muito juntas, os seus corpos quase a tocar-se. Olhar fixo no seu, com um brilho a acentuar o verde que ela já tão bem conhecia.
Eliana ouvia a pequena voz que agora, ao invés de sussurrar, gritava ao seu ouvido. A voz que já não conseguia calar, que não podia negar ouvir. As palavras que se recusara a proferir durante tanto tempo e eram agora parte de si.
A porta abriu-se nesse momento e os rapazes aproximaram-se dos seus computadores.
David levantou-se cedendo o lugar e foi encostar-se á máquina de projecçao no outro lado, ao coberto da escuridão. Mesmo não o vendo, Eliana tinha a certeza do seu olhar cravado em si."
In: Sopro de Luz
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