Tu que me corres nas veias
Feito sangue, lágrima, lembrança.
Linfa quente que me comanda
Gélida por vezes
Qual supra-herói desprovido de capa.
Tu que me prendes com garras agridoces
Das quais não sei se me quero livrar.
Tu. Feito sonho. Feito desejo. Feito verdade
Quimera de despojos da felicidade
Resquício de ilusão
Ferves-me no corpo como óleo quente.
Preso a mim,
Seiva que me cobres por dentro.
Tu, que sinto bater nos ouvidos
Que silencias o mundo com a tua voz.
Que guias e comandas
Que sem amar, amas.
Saudade feita dor, feita palavra, feita ferida.
Ferida aberta na carne que não me pertence.
Tu que cegas com a tua luz
Que me sopras ao ouvido
Sussurras com palavras que me rasgam a pele,
Me dominam, me prendem.
Tu, só tu…
Sangue adocicado
Inebriante e viciante.
Envolvida em ti
Sempre, para sempre.
És o brasão da família que me acolhe
À qual sempre regresso
Na qual me perco sem retrocesso.
Tu. Parte de mim e eu em ti.
Prolongamento da minha carne.
Tu. Caminho já percorrido
Caminho que percorro, onde me mantenho.
Porteiro do mundo a que pertenço.
Juiz das provas que venço.
És o ar que respiro
És o fumo que inalo
Hino que canto.
Tu que me embalas
Onda do meu destino
Mar bravio onde navego
Intempérie que me atinge,
Me sacode.
Raio de trovão que ilumina o meu céu.
És tu. Carrasco da minha pena
Justiça que me condena,
Que me defende e me entrega.
Tu que ditas quem sou.
Prisão onde me sinto
Ventre que me acolhe.
És o ruído de fundo
Banda sonora do filme do meu mundo.
És a chuva que me rega
A areia do deserto do meu peito.
Injecção letal que não me mata
Vem força, herói sem capa
Que me perco ao ter consciência da ausência de ti.
Oh fogo no qual ardo.
Que percorre todo o meu ser.
Raiz que em mim se prendeu.
Alimenta-te do que te dou
Do que no fundo sempre foi teu.
Tu, doce, saudoso tu.
Som agudo que me incapacita
Sirene que não se cala
No farol que me guia.
Tu, força, vida, fermento
Calor, conforto, alimento
Ilusão, truque, magia
Flecha certeira que me feriu
Quase me matou.
Mapa do meu destino
Guia do meu caminho.
Tu que vejo quando sonho
Que me matas a sede de ti.
Toque suave de compreensão,
Motor que impulsiona o meu coração
Máquina do tempo para a felicidade
Inventor da palavra saudade.
Tu, cura para a dor,
Nascente pura de amor.
Morte que quase me matou
Adrenalina que me salvou.
Tu. Linfa, óleo, sangue
Motor de uma realidade já ida.
Tu. Força, herói, magia
Propulsor da minha vida
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