“ Sabes, o vazio fica tão preenchido com a tua presença! Não imaginas como é não poder dormir com o som que o silêncio insiste em produzir…
Por vezes, deito-me na cama e penso como será o viver vazio de esperança e cheio de nada… e aí choro, com a dor que não sinto, mas que sei que vivo.
Sinto por vezes um arder imenso, que se apaga ao ser tocado pelas lágrimas que não choro por ser tão fraca.
Tenho pena de ser e viver, mas nada temo, pois sei que estás comigo, apesar de por vezes me esquecer. E aí todo o sonho cai no abismo e eu vou com ele em direcção ao pesadelo de viver sem vida, sonhar os pesadelos, chorar sem lágrimas…
No momento que soubemos que eu estaria praticamente condenada, eu senti a tua falta, do teu abraço… insisti com a mãe para não te dizer, sabia como irias ficar…
O médico disse que com o transplante há uma pequena hipótese de eu sobreviver…mas mesmo assim…
Não te poderia pedir jamais esse sacrifício, não seria justo para ti!
Mas não te ter é igualmente injusto.
Sonhei que tu vinhas para me ajudar, qual anjo salvador e mesmo depois do transplante eu não melhorava…e tu tinhas abdicado do teu futuro, de tudo pelo que lutaste tanto tempo e que tanto adoras…e o teu coração tinha-se ressentido…
Imaginei-te presa a essa dor, a essa falta. Senti-me vazia, senti-me egoísta, senti-me má!...
O tempo lá fora parou. Não se sente o vento nem o sol nem nada…lembro-me de um dia teres dito que sem a tua poesia te sentias morta, vazia, seca…
Sinto-me assim, num desses momentos, com as forças a abandonarem-me
É nessa altura que eu caio para não mais me erguer.
Levanto a cabeça e lá estas tu, pronta para me libertares das amarras que há muito me prenderam ao chão.
Mas nem tu tens força para me ajudar a agarrar à vida. Tenho medo…
Mesmo sabendo da tua recusa, do teu receio, da tua lacuna de força, da tua tentativa vã de te protegeres da dor, no fundo sei que estás presente, sei que o medo te domina mas o amor prevalece…
Não digo que te perdoo, pois nada há a perdoar, amo-te e amar-te-ei para sempre embora me apeteça gritar, pedir ajuda, ser egoísta…
Em pensamento eu grito, eu imploro”Por favor ajuda-me!” E tu lá estás. Apesar de tudo seguras-me na mão e dizes,”Não tenhas medo, eu fico contigo!”…”
"Carta"
In: Pintar em Palavras
"Carta"
In: Pintar em Palavras
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