"Pegou na mão do irmão e começaram a subida.
Iniciavam sempre acompanhando o leito seco do velho ribeiro, agora desviado pelos habitantes, de forma a servir de rega natural para os cultivos. Ao longo de toda a serra tinham sido edificados pequenos muros de pedra que delimitavam os terrenos de cada habitante. Atravessando os muros com cuidado, poupavam tempo na subida. Daniela ia apanhando pequenas flores amarelas e brancas para quando chegassem ao cimo, poderem fazer coroas de flores.
No cimo da serra, depois de atravessarem um caminho de cabras estreito e sinuoso, que desembocava num valeiro profundo, tinham uma pequena parede de calcário no cimo da qual se encontrava uma gruta. Quando era pequena, Eliana costumava ir com as amigas até a gruta… Cabiam apenas 4 crianças de cada vez e era ali o local de pernoite de animais, pelo que por todo o chão se viam ossadas de pequenos roedores e penas. Mas nem o cheiro a urina dos animais que por ali ficavam, era suficiente para desmotivar quem a visitava.
A vista era fantástica, de cortar a respiração, abria mesmo por entre os penedos, virada para Oeste, permitia ver o por do sol que banhava toda essa parte da serra, bem como a planície adjacente, num quente e aromatizado laranja e dourado. Era estonteante e mágico. Decidiram, portanto, guardar a subida á gruta para o final da visita.
Seguindo depois do caminho de cabras, tinham de ir amassando e pisoteando a vegetação. Eliana ia na frente a abrir caminho para os irmãos, segurando a mão de Leandro. Daniela ia em ultimo, agarrada ao cesto e desviando o irmão dos tojos.
Finalmente chegaram ao prado da tia. Um espaço aberto no centro da vegetação. Parecia um campo relvado. Pincelado aqui e ali, por pequenas flores brancas e azuis. No centro, a velha Oliveira fornecia a sombra necessária para o descanso, mesmo ao lado do pequeno lago, ladeado de rochas e juncos. Ouviam-se as rãs a coaxar e a saltar de quando a quando das rochas para a água. Eliana ajeitou a toalha com Daniela e deitou-se sob a sombra da velha árvore, observando Leandro a correr a volta do lago a tentar apanhar uma rã mais distraída.
A luz do sol passava por entre a folhagem, interrompida em sombras que bailavam no corpo e rosto de Eliana. Deitada de costas, deixava-se agora impregnar por esses raios de luz quente que rendilhavam a sua pele, em formas indefinidas e assimétricas. Tinha de semicerrar os olhos, mas a vontade de olhar, bem de frente, aquela fonte de energia e força era incontrolável. As formas bailavam sobre ela como pequenas fadas luminosas num qualquer bosque encantado e Eliana recebia essa luz como uma bateria que absorve a sua carga.
Rendida aos seus pensamentos, num mundo povoado apenas de alegria e seres sobrenaturais e míticos, mergulhada numa luz de intensa felicidade que agora a banhava, deixou-se viajar até alguns meses atras, onde o seu corpo era abraçado pelo mesmo calor de felicidade pura, mas nessa altura a fonte da calor era materializada num outro corpo que abraçava o seu e lhe queimava a pele com felicidade, caricias e desejo..."
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