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19 de julho de 2012

Versos Mudos

Folhas em branco
De um livro que não escrevi
Pedaços de uma vida
Letra de uma cantiga
Amostras do que senti
Pauta preenchida
Com notas que não canto
Noite de sorrisos
Momentos precisos
Segundos de encanto
Segmentos de recta
Que nunca se tocam
Ângulos que falham
Teoremas que não calham
Ideias que chocam
Espelhos baços
Reflexos desfocados
Imagem perdida
De uma vida esquecida
Um futuro negado

E fiz-me palavra
Nos versos que canto
Na música que guardo
Escondo o meu pranto
Nas horas que passam
No tempo esquecido
Nas margens do tempo
O tempo vivido

Vesti-me de luto
Sem negro nem dor
Recebo a saudade
Encaro a verdade
O poder destruidor
Gravo no peito
Lembrança apagada
Perco o caminho
Avanço sem destino
Sigo essa estrada
Gotas de chuva
Tempestade atroz
Raios que matam
Trovões que marcam
Que calam a voz
Nas teias de seda
Que uma aranha teceu
Prendem-se os restos
Calam-se os versos
Que o tempo esqueceu

14 de julho de 2012

Pintar em Palavras 5

"Zora releu o bilhete. Havia nele algo de estranhamente familiar…como se o “pintor” a conhecesse…
A chuva tinha dado lugar a um temporal. O tempo parecia reflectir o seu estado de espírito. Um misto de sentimentos e dúvidas. No mesmo passeio onde tudo se iniciara, Zora baixou os braços e entregou-se ao temporal. Deixou a chuva penetrar a grossa camada de roupa e enregela-la. Durante alguns segundos, os suficientes para começar a tremer de frio, Zora desligou-se do mundo e do tempo e fundiu-se com a chuva e o vento...
Entrou em casa ainda a pingar. Ao olhar para o corredor foi surpreendida por algo escrito na parede. Accionou o interruptor e leu:
 
“Na procura da tua presença, descobri o vazio que afinal sempre aqui estivera.”

Cada vez mais confusa bateu à porta...
-Prometi pintar o teu rosto em palavras, mas ainda não inventaram palavras para o descrever. As palavras secam na nascente. Já te tinha dito…
- És tu!
-Ás vezes as coisas que estão mesmo a nossa frente, só se tornam visíveis quando estamos preparados para as enfrentar e receber.
Zora aproximou-se e beijou-o demoradamente. Já não sentia o frio das roupas que trazia, nem as lágrimas que naquele momento rolavam no rosto de ambos, até se fundirem numa só. " 

In: "Pintar em Palavras"

6 de julho de 2012

Minha Balada de Tuna 1

Capas de ternura
Que envolvem com emoção
Damas senhoras donzelas
Embaladas na mesma canção

Pela noite à alvorada
Na vontade de conquistar
Notas soltas de uma guitarra
Uma canção de embalar/um coração a palpitar

Trazendo no peito a saudade
A canção por concluir
Nostalgia, sonho, tristeza
O saber ter de partir

Mas na memoria de quem passa
Fica sempre no coração
As notas desta guitarra
O som desta canção

Eu quero morrer a cantar
Versos teus, do teu sentir
Eu sou letra da tua canção
Tu és música do meu existir

"Guitarra"



Balada de Tuna
By: Ursula Portugal

2 de julho de 2012

Pintar em Palavras 4

“Esperei.
Procurei as palavras
Não as encontrei.
Perdi-me na espera
Da busca de ti
E preso no nada
Pelo sonho vivi.
Desejei a tela
Em que te possa pintar.
Juntei as palavras
Que julguei encontrar.
Segue o teu rumo
Sabes a direcção
Devolve ao meu vazio
O teu coração.”
Já te encontraste? Agora procura-me…”

"Pintor de palavras"
In : Pintar em Palavras

1 de julho de 2012

Pintar em Palavras 3

“As horas passaram
Os olhos colados na porta que não abriu
O retrato imaginado
O sonho
Meramente sonhado
Sentindo que algo não se sentiu.
Se o erro está nos olhos
E a verdade afinal é negação
A realidade crueldade
O que vi
Imaginação”
“Esperei pelo seu rosto para o poder pintar. As palavras surgiram esperando pela musa. Não devo ter visto o que pensava ter sonhado. Eu volto”

"Pintor de palavras"
In: Pintar em Palavras