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26 de fevereiro de 2015

Insónias

"As minhas noites não são feitas de sonhos. São invadidas por pesadelos, povoados de monstros, que gritam apenas um nome… o teu!! E fica-me preso na garganta um grito que não consigo dar. No meu peito, estão presas as palavras que não consigo libertar… E num último olhar que se cruza, arrisco tudo… Reúno forças e chamo o teu nome… Os monstros rasgam-me a garganta, onde um fio de voz se arrasta, fraco e suspirado por entre lágrimas.. Vejo-te morrer. No meu sonho, partes uma e outra vez, enquanto eu própria me afogo no meu sangue, incapaz de libertar de mim, aquele ultimo grito. Incapaz de trocar contigo qualquer palavra de despedida. Olho-te nos olhos, com a certeza que me vês. Sem saber se não me ouves, ou se não me queres ouvir. No ar, suspenso, o teu nome. Perdido para sempre, arrastado no vazio." In: "Insónias 2013"

27 de janeiro de 2014

Raiva Oculta

Rasga-me o peito, esta dor Como espada, quente, em ódio forjada. Como luz, forte, na noite.... Como voz, entre os silêncios, gritada. Corta-me a alma, tal tormento Este espinho, na carne fraca. Esta ferida, de dor constante. Que vem, fica e marca. Queima-me os olhos, esta imagem Que me atormenta, na noite negra. Que ocupa os meus sonhos. Que faz da mágoa, dor eterna. Dilacera-me, o chicote, de raiva pura Com o corte, dado a cada chicotada. Nos rastos, abertos e rubros Avisto a morte, anunciada. Mata-me a lança, apontada Ao meu coração, fraco, de tanta luta. Mata-me a verdade, a dor causada. Morte vinda da raiva, oculta.

8 de outubro de 2013

3º Encontro de Escritores da Lusofonia





3º Encontro de Escritores da Lusofonia

1 de outubro de 2013

Desisto

Desisto!!

De que me serve amar, afeiçoar-me, apaixonar?.. Se, no final, tudo é arrancado de mim, como um castigo, uma pena!!

Sou má, só pode. Recebi sentença de culpada, sem conhecer a minha culpa. Mas o castigo está aí, para que todos vejam, a criminosa que sou!!

Procuro as razões, as ações que possam valer tal punição!! Sim, errei. Tal como todos e qualquer um. Então, que seja eu a desaparecer e não aqueles que têm o meu afecto!

Juro não mais me apegar, não mais gostar de nada, nem ninguém. Talvez assim os proteja!!

Um, a um… De tempos, a tempos… Vão-me sendo arrancados, como pedaços de um coração, que juro, vou proibir de bater!!

Tudo à minha volta tomba, sofre, parte…

De que vale tocar-vos, se, na realidade, é o dedo frio da morte que sentem?..

Desisto. Desisto, de ter em mim, uma qualquer praga, que atinge as coisas boas, as pessoas boas!

Vão desaparecendo, uns com despedida, outros sem aviso…Frágeis, sós, inocentes … !

Hoje… tu.. para sempre ausente…

23 de setembro de 2013

O meu alimento

A luz que me ilumina, é difusa
Como a de uma vela que se apaga
A caneta é a arma que empunho
Como fogo ardente, que se propaga
Bebo da Poesia, as palavras
Durmo num leito de poemas
Pinto de palavras o meu mundo
Com cores, de vários temas
E em pautas onde desenho
As notas que pratico
Respeito as pausas que existem
No silêncio do meu grito.
No teatro encontro alento
No calor das palavras ouvidas
Nos olhos de quem representa
Vejo as dores em mim sentidas.
Sentada junto da mesa
Onde a minha imaginação voa
Marco a tinta, no papel
Cada vida que me povoa.
Pinto telas de escuridão
Na pálida luz que me ilumina
Faço das telas, janelas
Para o mundo que me domina
Poesia, Pintura, Teatro,
Canto, Vida Sentimento
Sob esta luz difusa
A Arte é o meu alimento.



20 de julho de 2013

Carne

Feito carne pulsante
Não mera ideia, mero sonhar
Num arrepio de êxtase
Preso na magia de um olhar
Feito beijos
Não simples toque, não simples provar
Guardado atrás de uma porta
Aroma quente no ar
Feito marca
Não apenas saliva, não apenas suor
Enleados os corpos
Desejo profundo e maior
Feito fome
Não simples desejo, simples buscar
Numa revolta urgente
Incapaz de saciar
Feito noite estrelada
Não era tempo, não era lugar
Momentos de fina loucura
Um corpo por outro corpo a amar.

18 de julho de 2013

Futuro no Passado

Dou por mim sentada na cama. No computador passa um dos meus filmes favoritos “moulin rouge”
Recordo-me de tanta coisa, relembro-te, envolto no meu abraço, enquanto te murmuro as palavras “come what may”.
Passa mais uma noite. E outra parte do passado que surge.
E sou envolta em outro abraço, confortada em outro olhar. Um rasto de caricias e beijos.
Relembro-me da matéria física de que sou feita. Retomo a noção da extensão do meu ser.
Submersa no passado. Foi nessa prisão que cortei as amarras. Foi a ligação “ao que já foi”, que me fez perceber que o importante é “o que poderá ser” e não “o que poderia ter sido”.
Existes e sempre irás existir. Mas eu também preciso espaço para existir, para “ser”.
E reconheço o meu sorriso, o meu olhar, que aos pouco recupera o brilho.
Um mergulho no passado, que me reabre os olhos para o futuro.
Deixo-te ir!
Na esperança de conseguir desligar-te e criar novas ligações. De me inteirar, desde as memórias ao momento, de me recriar, moldada a mim e não a ti!!
Porque sei, agora, mais do que nunca, posso encontrar-me onde menos espero. Posso reconstruir-me sem ti!
Deixo-te ir, solto, livre, feliz. Desejando poder, também eu, partir livre das recordações que me têm mantido presa a ti.

27 de junho de 2013

Pudessem os meus olhos

  Pudessem os meus olhos ser o suficiente para fazer jus ao que veem.
  Pudera eu fotografar com os meus olhos e mostrar ao mundo a magnificência por eles vista.
  Conseguir deixar-vos ver a forma mágica como corre este rio, ondulante em tons de prata e esmeralda. Como dançam as algas impelidas pela ondulação.
  Se pudessem os meus olhos recriar o fascínio das águas cristalinas, descrever o branco da espuma nas suas cascatas, em contraste com todos os verdes que poderem imaginar.
  Pudessem os meus olhos ser o espelho perfeito da alma que sinto nesta corrente, da vida que pulula de pedra em pedra, navegando em ondas nunca iguais num percurso aleatório.
  E os aromas? Porque não posso descrever com os olhos, registar este cheiro a quente e verde? Este cheiro a água que todos dizem não ter cheiro.
  Pudera eu pelos meus olhos dar a conhecer o mundo ao mundo.Deixar o sol que me aquece, e reflecte no rio, ser a luz do meu olhar para todos poderem sentir o que sinto.
  Os meus olhos que tanto veem, pudessem eles explicar fielmente a dureza áspera da pedra onde me sento.
  E recordar pelos meus olhos a agitação do rio, que sinto correr no meu peito.
  Se os meus olhos fossem câmeras e a minha mente o revelador. Pudesse eu mostrar ao mundo, o meu mundo em tantos mundos.
  Poderão os outros ver o que os meus olhos veem?
  Será, por eles, vista a gota cristalina de orvalho que suspende nos ramos finos do chorão, qual lágrima chorada?
  Será ela vista por outros olhos com a mesma magia e graça pelos meus vista?
  Pudessem ser todas as cores absorvidas num olhar e eu, capacitada e fiel, pudesse descreve-las para que todos as sentissem como eu sinto.
  E o verde? Será esta erva vista no mesmo verde que eu a vejo?
  Brilhará ela na luz ou são os meus olhos que a fazem brilhar?
  Fosse eu capaz de pintar ou descrever tudo o que os meus olhos observam e retêm.
  Pudesse eu transmitir e descrever a sensação no meu peito ao avistar o laranja do céu, nas suas linhas pintadas a pincel fino, em cores que não dá para explorar.
  Os laranjas, o azuis, os violetas..
  Pudera eu mostrar o que os meus olhos me mostram.
  Colorir as almas com as cores que eles veem, prender os momentos e reter a maravilha que me rodeia.
  Conseguir combater a desilusão de não haver máquina no mundo capaz de transmitir as imagens presas no meu olhar.
  Pudesse eu ser capaz de devolver ao mundo o que o mundo me mostra.
  Saltar em imagens como diapositivos projectados, como espuma de água que bate nas pedras do rio, dançando em mares de azuis e brancos.
  Pudesse ser mostrada a magnificência que me rodeia, em deslumbre colectivo, que a todos tocasse como abraço quente de alguém querido.
  E a luz? Pudesse eu iluminar caminhos como o que se ilumina à minha frente, recortado em raios que apontam espaços, por entre a vegetação alta que me engole. Quais dedos de luz que me desenham na pele tatuagens iluminadas e quentes.
  Pudera ser dado à visão o poder de reflectir o que vê. De serem os meus olhos espelhos do que sinto, penso e vejo.
  Mas os meus olhos são meros olhos.
  Olhos que apenas observam, olhos que sentem, olhos onde penetram imagens que não sei se mais alguém vê.
  Olhos que absorvem, que doem, que choram.
  Mas nada mais do que olhos. Olhos sem arte, sem magia, sem capacidade alguma para além da que possuem.
  Pudesse eu, por vezes fechar os olhos. Apagar o que gravaram na minha mente. Esquecer as cores que me atormentam. Limpar as dores que sinto.
  Pudera eu controlar o que retenho, o que absorvi e agora não consigo esquecer.
  Meus olhos. Meus pobres olhos cansados de tanto verem.
  Meus olhos. Meu mundo. Minha alma.
  Meus olhos. Que alguém os olhe, profundamente, próximos. Que alguém lhes toque com os seus olhos e que finalmente, neles seja visto o que eles já viram.
  Que possam finalmente partilhar o peso de tanta cor.
  Que finalmente descansem, sem contemplar nada mais que outros olhos.

15 de maio de 2013

Mais uma Vez...

E mais uma vez queima-me a pele,
Num toque que ficou por acontecer…
Mais uma vez,
Ardem-me os olhos nas lágrimas por chorar…
Mais uma vez, chegaste.
 Desprovido de sorrisos, despojado de palavras…
E mais uma vez eu gelei,
 Por dentro, no sangue que sempre me fizeste ferver…
Por uma vez mais,
 O mundo parou à nossa volta, num instante suspenso no tempo…
Mais uma vez desejei comandar o tempo,
Fazer durar para sempre o nosso instante...
Mais uma vez,
Lembrei-me que não existem instantes nossos.
Que o nosso tempo já não se cruza.
Por uma vez mais,
Senti-te junto a mim, embora mais distante do que nunca…
Foi mais uma vez,
 Uma no meio de tantas…
Mais uma vez,
Todo o meu ser tremeu…
Mais uma vez,
Lutei por não te olhar…
Foi mais uma vez.
Mais um infinito de recordações…
E mais uma vez, doeu…


2 de maio de 2013

Mundo de Ilusão II

Nunca pensei poderem serem deflagrados tantos sentimentos e lembranças num simples regresso a um local.
Deparei-me com um recordar de aromas, de momentos, de cores e vozes. E de um momento para o outro, todo o meu ser regressou àqueles fragmentos de felicidade pura e impossível de quebrar.
As paredes tornaram-se no céu mais estrelado, os rostos, desconhecidos, em rostos familiares. E tudo o que tem sido reprimido, voltou. Como se nunca tivesse desaparecido.
Fiquei com o aroma familiar preso nas narinas, o sabor doce e húmido, como parte da minha boca.
A impressão na pele, do toque quente, em contraste com as gotas frias daquela chuva.
E desse lugar nasceram outros lugares, lugares antigos, que pensava já demolidos na minha mente. Lugares aos quais jurei nunca mais voltar.
Entrei a medo, mas sem imaginar cair em tal remoinho de sentimentos. Tentei distrair, alinhar na conversa, concentrar-me na música…
Tudo se tornava de novo em passado, tudo voltava a ti…
Lutei contra as fachadas que se erguiam de novo no meu cérebro, arrastando-me para noites de um passado destruído. Ou assim o julgava. Talvez tenha sido ingénua ao achar que estava imune. Afinal, reviveste em contacto com aquele espaço… ou pelo menos a sombra do que foste…
Sei que é isso, que não passas disso. Uma sombra, um vapor que me tolda a mente quando o respiro.
Tento lutar, juro que tento, mas vivo os dias presa nessa realidade, mesmo sabendo não passar de uma nuvem de sonhos. Mesmo sabendo que “o meu mundo de ilusão” não passa disso mesmo… uma ilusão.
Mas estás presente. Mesmo quando não quero que estejas. Mesmo quando corres no meu corpo como o veneno que és. Mesmo assim… estás presente. E eu, mesmo não querendo, deixo-te estar.