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8 de outubro de 2013

3º Encontro de Escritores da Lusofonia





3º Encontro de Escritores da Lusofonia

1 de outubro de 2013

Desisto

Desisto!!

De que me serve amar, afeiçoar-me, apaixonar?.. Se, no final, tudo é arrancado de mim, como um castigo, uma pena!!

Sou má, só pode. Recebi sentença de culpada, sem conhecer a minha culpa. Mas o castigo está aí, para que todos vejam, a criminosa que sou!!

Procuro as razões, as ações que possam valer tal punição!! Sim, errei. Tal como todos e qualquer um. Então, que seja eu a desaparecer e não aqueles que têm o meu afecto!

Juro não mais me apegar, não mais gostar de nada, nem ninguém. Talvez assim os proteja!!

Um, a um… De tempos, a tempos… Vão-me sendo arrancados, como pedaços de um coração, que juro, vou proibir de bater!!

Tudo à minha volta tomba, sofre, parte…

De que vale tocar-vos, se, na realidade, é o dedo frio da morte que sentem?..

Desisto. Desisto, de ter em mim, uma qualquer praga, que atinge as coisas boas, as pessoas boas!

Vão desaparecendo, uns com despedida, outros sem aviso…Frágeis, sós, inocentes … !

Hoje… tu.. para sempre ausente…

23 de setembro de 2013

O meu alimento

A luz que me ilumina, é difusa
Como a de uma vela que se apaga
A caneta é a arma que empunho
Como fogo ardente, que se propaga
Bebo da Poesia, as palavras
Durmo num leito de poemas
Pinto de palavras o meu mundo
Com cores, de vários temas
E em pautas onde desenho
As notas que pratico
Respeito as pausas que existem
No silêncio do meu grito.
No teatro encontro alento
No calor das palavras ouvidas
Nos olhos de quem representa
Vejo as dores em mim sentidas.
Sentada junto da mesa
Onde a minha imaginação voa
Marco a tinta, no papel
Cada vida que me povoa.
Pinto telas de escuridão
Na pálida luz que me ilumina
Faço das telas, janelas
Para o mundo que me domina
Poesia, Pintura, Teatro,
Canto, Vida Sentimento
Sob esta luz difusa
A Arte é o meu alimento.



20 de julho de 2013

Carne

Feito carne pulsante
Não mera ideia, mero sonhar
Num arrepio de êxtase
Preso na magia de um olhar
Feito beijos
Não simples toque, não simples provar
Guardado atrás de uma porta
Aroma quente no ar
Feito marca
Não apenas saliva, não apenas suor
Enleados os corpos
Desejo profundo e maior
Feito fome
Não simples desejo, simples buscar
Numa revolta urgente
Incapaz de saciar
Feito noite estrelada
Não era tempo, não era lugar
Momentos de fina loucura
Um corpo por outro corpo a amar.

18 de julho de 2013

Futuro no Passado

Dou por mim sentada na cama. No computador passa um dos meus filmes favoritos “moulin rouge”
Recordo-me de tanta coisa, relembro-te, envolto no meu abraço, enquanto te murmuro as palavras “come what may”.
Passa mais uma noite. E outra parte do passado que surge.
E sou envolta em outro abraço, confortada em outro olhar. Um rasto de caricias e beijos.
Relembro-me da matéria física de que sou feita. Retomo a noção da extensão do meu ser.
Submersa no passado. Foi nessa prisão que cortei as amarras. Foi a ligação “ao que já foi”, que me fez perceber que o importante é “o que poderá ser” e não “o que poderia ter sido”.
Existes e sempre irás existir. Mas eu também preciso espaço para existir, para “ser”.
E reconheço o meu sorriso, o meu olhar, que aos pouco recupera o brilho.
Um mergulho no passado, que me reabre os olhos para o futuro.
Deixo-te ir!
Na esperança de conseguir desligar-te e criar novas ligações. De me inteirar, desde as memórias ao momento, de me recriar, moldada a mim e não a ti!!
Porque sei, agora, mais do que nunca, posso encontrar-me onde menos espero. Posso reconstruir-me sem ti!
Deixo-te ir, solto, livre, feliz. Desejando poder, também eu, partir livre das recordações que me têm mantido presa a ti.

27 de junho de 2013

Pudessem os meus olhos

  Pudessem os meus olhos ser o suficiente para fazer jus ao que veem.
  Pudera eu fotografar com os meus olhos e mostrar ao mundo a magnificência por eles vista.
  Conseguir deixar-vos ver a forma mágica como corre este rio, ondulante em tons de prata e esmeralda. Como dançam as algas impelidas pela ondulação.
  Se pudessem os meus olhos recriar o fascínio das águas cristalinas, descrever o branco da espuma nas suas cascatas, em contraste com todos os verdes que poderem imaginar.
  Pudessem os meus olhos ser o espelho perfeito da alma que sinto nesta corrente, da vida que pulula de pedra em pedra, navegando em ondas nunca iguais num percurso aleatório.
  E os aromas? Porque não posso descrever com os olhos, registar este cheiro a quente e verde? Este cheiro a água que todos dizem não ter cheiro.
  Pudera eu pelos meus olhos dar a conhecer o mundo ao mundo.Deixar o sol que me aquece, e reflecte no rio, ser a luz do meu olhar para todos poderem sentir o que sinto.
  Os meus olhos que tanto veem, pudessem eles explicar fielmente a dureza áspera da pedra onde me sento.
  E recordar pelos meus olhos a agitação do rio, que sinto correr no meu peito.
  Se os meus olhos fossem câmeras e a minha mente o revelador. Pudesse eu mostrar ao mundo, o meu mundo em tantos mundos.
  Poderão os outros ver o que os meus olhos veem?
  Será, por eles, vista a gota cristalina de orvalho que suspende nos ramos finos do chorão, qual lágrima chorada?
  Será ela vista por outros olhos com a mesma magia e graça pelos meus vista?
  Pudessem ser todas as cores absorvidas num olhar e eu, capacitada e fiel, pudesse descreve-las para que todos as sentissem como eu sinto.
  E o verde? Será esta erva vista no mesmo verde que eu a vejo?
  Brilhará ela na luz ou são os meus olhos que a fazem brilhar?
  Fosse eu capaz de pintar ou descrever tudo o que os meus olhos observam e retêm.
  Pudesse eu transmitir e descrever a sensação no meu peito ao avistar o laranja do céu, nas suas linhas pintadas a pincel fino, em cores que não dá para explorar.
  Os laranjas, o azuis, os violetas..
  Pudera eu mostrar o que os meus olhos me mostram.
  Colorir as almas com as cores que eles veem, prender os momentos e reter a maravilha que me rodeia.
  Conseguir combater a desilusão de não haver máquina no mundo capaz de transmitir as imagens presas no meu olhar.
  Pudesse eu ser capaz de devolver ao mundo o que o mundo me mostra.
  Saltar em imagens como diapositivos projectados, como espuma de água que bate nas pedras do rio, dançando em mares de azuis e brancos.
  Pudesse ser mostrada a magnificência que me rodeia, em deslumbre colectivo, que a todos tocasse como abraço quente de alguém querido.
  E a luz? Pudesse eu iluminar caminhos como o que se ilumina à minha frente, recortado em raios que apontam espaços, por entre a vegetação alta que me engole. Quais dedos de luz que me desenham na pele tatuagens iluminadas e quentes.
  Pudera ser dado à visão o poder de reflectir o que vê. De serem os meus olhos espelhos do que sinto, penso e vejo.
  Mas os meus olhos são meros olhos.
  Olhos que apenas observam, olhos que sentem, olhos onde penetram imagens que não sei se mais alguém vê.
  Olhos que absorvem, que doem, que choram.
  Mas nada mais do que olhos. Olhos sem arte, sem magia, sem capacidade alguma para além da que possuem.
  Pudesse eu, por vezes fechar os olhos. Apagar o que gravaram na minha mente. Esquecer as cores que me atormentam. Limpar as dores que sinto.
  Pudera eu controlar o que retenho, o que absorvi e agora não consigo esquecer.
  Meus olhos. Meus pobres olhos cansados de tanto verem.
  Meus olhos. Meu mundo. Minha alma.
  Meus olhos. Que alguém os olhe, profundamente, próximos. Que alguém lhes toque com os seus olhos e que finalmente, neles seja visto o que eles já viram.
  Que possam finalmente partilhar o peso de tanta cor.
  Que finalmente descansem, sem contemplar nada mais que outros olhos.

15 de maio de 2013

Mais uma Vez...

E mais uma vez queima-me a pele,
Num toque que ficou por acontecer…
Mais uma vez,
Ardem-me os olhos nas lágrimas por chorar…
Mais uma vez, chegaste.
 Desprovido de sorrisos, despojado de palavras…
E mais uma vez eu gelei,
 Por dentro, no sangue que sempre me fizeste ferver…
Por uma vez mais,
 O mundo parou à nossa volta, num instante suspenso no tempo…
Mais uma vez desejei comandar o tempo,
Fazer durar para sempre o nosso instante...
Mais uma vez,
Lembrei-me que não existem instantes nossos.
Que o nosso tempo já não se cruza.
Por uma vez mais,
Senti-te junto a mim, embora mais distante do que nunca…
Foi mais uma vez,
 Uma no meio de tantas…
Mais uma vez,
Todo o meu ser tremeu…
Mais uma vez,
Lutei por não te olhar…
Foi mais uma vez.
Mais um infinito de recordações…
E mais uma vez, doeu…


2 de maio de 2013

Mundo de Ilusão II

Nunca pensei poderem serem deflagrados tantos sentimentos e lembranças num simples regresso a um local.
Deparei-me com um recordar de aromas, de momentos, de cores e vozes. E de um momento para o outro, todo o meu ser regressou àqueles fragmentos de felicidade pura e impossível de quebrar.
As paredes tornaram-se no céu mais estrelado, os rostos, desconhecidos, em rostos familiares. E tudo o que tem sido reprimido, voltou. Como se nunca tivesse desaparecido.
Fiquei com o aroma familiar preso nas narinas, o sabor doce e húmido, como parte da minha boca.
A impressão na pele, do toque quente, em contraste com as gotas frias daquela chuva.
E desse lugar nasceram outros lugares, lugares antigos, que pensava já demolidos na minha mente. Lugares aos quais jurei nunca mais voltar.
Entrei a medo, mas sem imaginar cair em tal remoinho de sentimentos. Tentei distrair, alinhar na conversa, concentrar-me na música…
Tudo se tornava de novo em passado, tudo voltava a ti…
Lutei contra as fachadas que se erguiam de novo no meu cérebro, arrastando-me para noites de um passado destruído. Ou assim o julgava. Talvez tenha sido ingénua ao achar que estava imune. Afinal, reviveste em contacto com aquele espaço… ou pelo menos a sombra do que foste…
Sei que é isso, que não passas disso. Uma sombra, um vapor que me tolda a mente quando o respiro.
Tento lutar, juro que tento, mas vivo os dias presa nessa realidade, mesmo sabendo não passar de uma nuvem de sonhos. Mesmo sabendo que “o meu mundo de ilusão” não passa disso mesmo… uma ilusão.
Mas estás presente. Mesmo quando não quero que estejas. Mesmo quando corres no meu corpo como o veneno que és. Mesmo assim… estás presente. E eu, mesmo não querendo, deixo-te estar.

30 de abril de 2013

Mundo de Ilusão / Escoliadas

No mundo em que vivo
Na nuvem que escolhi
No sonho, na busca
Na vida que perdi
Agarrada, ao que tenho
No mundo que me envolve
Arco-íris a preto e branco
Fogo que me consome
O mar pelo rio adentro
O céu de um amarelo profundo
Gotas de chuva quente
Sonhos do meu mundo
Guerras, fome, lágrimas
O fim da solidão
Lado a lado, eu e fadas
Eu, deus da criação
No mundo que escolhi
Na nuvem onde vivo
No sonho, na busca
Neste meu porto de abrigo.
Nevoeiro cor de prata
Magia e sedução
No meu mundo encantado
No reino da imaginação

Foi então que sonhei
Um sonho acordado
Com deuses e fadas
Correndo num prado
Sem nuvens de chuva
E sem temporais
Um mundo de luz
De sonhos reais
Ao acordar do sonho
Cai na realidade
Do mundo que prende
Das trevas e do mal
Não tendo mais cores
Perdendo o sonhar
Resta-me o tempo
Sobra-me o luar
Sem perceber
O sonho e a realidade
Perdendo o pó de estrelas
Enfrentando a verdade
O que penso real
Na verdade não o é
Procurando num sonho
Buscando uma fé.

12 de abril de 2013

Farsa

Ensaio de vida
Sonhada para controlar
Perdida no teatro
Do fingir para não chorar
Sombra da verdade
Registo apagado
Contra-regra mudo
De um destino já traçado
Seguir todos os passos
Cenas e actos
Tentar compreender
Diálogos abstractos
Máscaras, ilusão
Resultados da maquilhagem
Por baixo mora o desgosto
Escondida a mensagem

E quando abrir o pano
À boca de cena eu vou
Representando a verdade
Mostrando quem sou
Não sigo o guião
Copiar não é para mim
Sob as luzes espero aplausos
A peça chegou ao fim

3 de abril de 2013

Nunca o direi. Já o sabes!...

Porque nunca vais saber como te amei.
Nunca entenderás o que sentia durante aqueles 3segundos que o meu coração parava de bater, sempre que te via.
O meu Amo-te nunca foi pronunciado. Sempre convertido num Adoro-te, dito a medo. Sempre um eco que se prendia nas paredes do tempo á nossa volta, nos nossos momentos.
Porque não sabes, nem nunca vais saber o quanto o teu respirar era o meu viver, o quanto o teu sorriso era a minha vida.
Disse-te em sonhos, demonstrado entre sonos, envoltos em lençóis e no escuro que nos escondia o olhar.
Fomos feitos de chuva, de lágrimas de sorrisos e de sonhos.
Fomos um do outro, escondidos em momentos, fugidos da realidade.
Fomos sempre simples amostra, nada mais do que suspiros, sombras, promessas, nada mais do que sonhos.
Pensei ser suficiente. Mas nunca o fui. E a mim, tu bastavas.
Nunca vais ouvir-me dizer o quanto te amei. O quanto ainda te amo. Porque nunca o poderei soltar do meu peito. O grito que traz dor e o teu nome agarrado.
Nunca seremos mais do que fomos. Quando achei que eramos tudo, na verdade nunca fomos tanto.
Mas mesmo assim, mesmo não dizendo o quanto te amo, já to disse.
É impossível não o teres sentido quando os nossos batimentos aceleravam juntos, tocando uma melodia só nossa.
É impossível não o saberes quando partilhámos tanta vida, tanto sentir.
É impossível não te teres perdido em mim, como eu me perdi em ti. Não te teres, também tu, segurado firme no meu abraço, não te teres ligado no entrelaçar dos nossos dedos.
Não digas não ter ouvido o som que se desprendia dos suspiros.
Que não sentias a electricidade que percorria as nossas peles, mesmo antes de se tocarem.
Não negues que te sentias completo em mim. Pelo menos afirmaste isso várias vezes.
Não saberás como te amei, como me odiei por te amar.
Porque nunca seremos voz, sempre eco.
Porque nunca seremos nós, sempre e apenas eu e tu.
Mas ainda corres na minha saliva, ainda me pulsas nas veias, ainda me bates no peito.
Ainda és presença constante nos meus sonhos, ainda és envolvência do meu ser.
Ainda ocupas o teu lugar dentro de mim.
Nunca vais saber como me faltas, como me dóis…
Nunca vais saber como é profundo o vazio que a tua ausência deixa em mim.
Nunca sentirás o corte frio da navalha da saudade, na indiferença do teu sorriso.
Restas-me tu. Na lembrança do calor que já foste no meu peito.
Restamos nós. Na recordação de sonhos adiados.
Resto eu… Apenas um resto de ti!

Sinto-te!

Sinto-te!
És o vento nas minhas asas
A água na saliva da minha boca
O raio do sol que me aquece
A luz da lua que me guia.
Sinto-te!
Em cada respirar vazio
Em cada momento perdido
Em cada lágrima que saboreio
Em cada sonho acordado
Sinto-te!
És tu em cada batida do meu peito
Presente em cada momento do meu caminho
Marcado em cada pegada que deixo
Sinto-te!
Como água no deserto
Como luz na noite mais escura
Como música no silêncio
Sinto-te!
Mesmo ausente, eu sinto-te!
Mesmo calado, eu ouço-te!
Mesmo distante, eu vejo-te!
Sinto-te!
E nada mais importa
E nada mais é tanto
E nada mais é tudo
E tudo à volta é nada!



7 de março de 2013

É injusto...

É tão injusto….
Tão injusto….
A notícia caiu como uma bomba, levando a uma incredulidade e vários abanares de cabeça…
Depois os arrepios da confirmação, a dor da certeza…
Que merda de vida esta, em que estamos presos a um só respirar. E de um momento para o outro…acabou tudo. Já não importa se amávamos ou eramos amados, não importam ódios, zangas… não importa quem nos importa...acaba… assim, de repente, sem aviso, sem preparação, sem despedidas..
Esgota-se um sol que iluminava tantas vidas… acaba… assim…
É tão injusto…




O dia amanhece
Tenebroso nos parece,
Feio, frio, cruel, injusto
A vida perde o sentido
O peito aperta, contraído
Sem vontade de seguir o seu curso
Esta vida é uma luta
Não há por perto uma alma enxuta
Estamos banhados pelo mesmo mar.
Um mar de lágrimas sentidas
De tristeza, raiva não contidas
Dormentes, sem querer acreditar.
O mundo parece deserto
Já nada é tido como certo
Quando assim nos é arrancado
Um pedaço, uma vida
Uma nota, numa cantiga
Num canto silenciado.
Parte a luz, deixa o vazio
No nosso peito, resta o frio
Da flor colhida num repente
Fica memória do sorriso
Recordação de um momento preciso
Fica a saudade. Até sempre.

 Até um dia Ricardo  C. :'(

26 de fevereiro de 2013

Passos nas Nuvens 6

"No escuro que me rodeava, presa por inteiro no mundo que me envolvia, não consegui mais segurar o meu pensamento. E toda a minha mente foi dominada pela presença do eco que povoava o meu peito. O fumo sem textura, sem consistência, ia rodopiando, ganhando forma, uma forma humana. E em segundos ele ali estava, mesmo ao meu lado, ocupando todo o espaço, fundindo-se com o meu ser e a natureza que me rodeava. A imagem do Cláudio tornou-se de novo real e presente.

As circunstâncias ditavam sempre o nosso afastamento. Naquela última noite no acampamento,anos atrás, ambos sabíamos que a partida estava eminente.
O Cláudio tinha conseguido estagiar na empresa do pai, no grupo de marketing e publicidade. Viria depois a tornar-se o mais novo gestor de campanha com apenas 21 anos.
Eu tinha concorrido á universidade de jornalismo e entrado e os fins-de-semana passados em casa iriam agora perder o sabor sabendo que ele não estaria á espera na passagem com aquele sorriso quente e o olhar profundo e brilhante.
Estávamos responsáveis por ajudar os miúdos mais pequenos no banho. Eu esperava na porta das raparigas e o Cláudio na dos rapazes.
As miúdas saiam e eu tinha de entrar para me certificar que tinham deixado tudo arrumado e não esqueciam nada lá dentro. Secava e penteava cabelos. No final quem precisava de um banho era eu.
Saí da casa de banho rodeada de vapor, para enfrentar o ar frio de Outubro. Vesti-me ainda dentro do cubículo do chuveiro e depois, de toalha enrolada no cabelo, aproximei-me do lavatório onde ainda tinha o secador ligado.
O Cláudio estava á minha espera encostado ao poste da entrada.
Nós tínhamos decidido não prosseguir com o nosso namoro, por sabermos ser difícil manter um relacionamento á distancia. Eu com 19 anos e ele com 20, em idades complicadas e com mundos de descoberta á nossa espera, pensávamos assim evitar dissabores e conseguir manter uma amizade pautada por recordações de coisas boas.
Sequei o cabelo e arrumei o estojo preparando-me para sair e voltar para junto do grupo.
A Vanessa tinha o jantar pronto. Ela e o Edgar iriam tomar banho só depois de comer, podíamos assim revessar-nos. O Vasco tinha já preparado a cama para a Tininha, que se encontrava sentada na entrada da caravana, numa cadeira de praia azul.
O Cláudio puxou-me por um braço assim que me aproximei dele.
-Anda, quero mostrar-te o que descobri.
Embora soubesse que o melhor era manter uma distância confortável dele, aceitei segui-lo.
Avancei pelo meio da vegetação, com a mão dele a puxar-me e a outra mão ocupada pelo estojo e pela roupa dobrada sobre o braço.
-Mas onde vamos? Está escuro, não vejo nada. Ainda nos vamos perder Cláudio.
Um chorrilho de desculpas e perguntas, saia-me pelos lábios, cortando o silêncio que nos rodeava.
-Cláudio, estão a nossa espera para jantar. Sabes que a Tininha tem de jantar cedo e ir descansar.
O Cláudio olhou para trás, sorrindo-me sem nunca parar de avançar.
Parámos numa clareira. As copas das árvores que ladeavam o espaço formavam um círculo perfeito, envolvendo-nos numa espécie de realidade paralela ao mundo onde estávamos inseridos.
-Não é lindo? – Perguntou, olhando-me nos olhos. Largou-me a mão e avançou alguns metros. Olhei para o céu, a toda a nossa volta era escuridão completa, densa. Parecíamos isolados da realidade, colhidos por um micro habitat onde, por alguma razão, eu sabia pertencer.
-É lindo Cláudio. Amanhã temos de trazer os miúdos para aqui. Podem correr, jogar a bola…
O Cláudio cortou-me palavra.
-Erica, eu trouxe-te a ti, só a ti. Quero que este sítio seja só nosso, um segredo, um porto onde regressar mesmo que a maior das tempestades se abata sobre nós.
Aproximou-se beijando-me com doçura.
E o contrato por nós feito perdeu valor, a decisão tomada de forma tão decidida deixou de ter importância. O Depois não existia e eramos o resultado de um Antes abraçados no desejo do Momento. Não fizemos perguntas, não questionamos consequências, não importava o adeus eminente. Bastava-nos aquele nosso mundo mágico, rodeado de negros que nos isolavam e permitiam sermos banhados pela luz de um céu limpo e carregado de estrelas.
Entregue nos seus braços, sentindo o gelo da noite penetrar-me na pele, quase fizemos amor. Eu sentia o meu corpo clamar por mais e mais caricias, mais e mais beijos. Sabia estar nas mãos sabedoras do meu ser. Conhecedoras do caminho que já antes percorreram.
O sabor a orvalho confundia-se com o sabor da nossa saliva.
O frio impedia-nos de nos demorarmos em caricias e trocas de toques.
O Cláudio beijava-me, presa no seu abraço, e eu, tomando consciência das implicações daquele momento, tentava afastar-me procurando o estojo que entretanto largara algures.
-Erica. Olha para mim. – pediu-me estendendo-me a mão.
Eu olhei-o nos olhos. Olhos cheios de tristeza, na espera de conforto da minha parte. Na espera de um abraço, de uma certeza que tudo estava bem, que tudo ficaria bem.
-Cláudio, isto não devia ter acontecido. Nós tínhamos combinado que devíamos afastar-nos. Que era o mais certo para nós.
-E tu não sentes que isto é certo? Consegues pensar que é um erro?...
O olhar dele transbordava de dor com uma luz que nunca tinha visto. Um brilho que era para mim totalmente desconhecido. Um tom de castanho que até então ele guardara só para ele e que nesse momento sabia ser só para mim.
O meu coração apertou, e um arrepio desde a nuca indicou-me o que eu preferia negar e esquecer. Eu seria sempre especial para ele e ele para mim. Mas tínhamos de chegar a um final. Aquele precisava ser o nosso final.
-Cláudio eu adoro-te e tu sabes disso. Mas é injusto estar a privar-te de novas possibilidades, de encontrares a felicidade.
-Eu já encontrei a minha felicidade. – Disse ele num grito.
-Não me interrompas por favor. – Sabia que se não conseguisse dizer tudo de uma vez, iria perder a confiança na minha decisão. – Preciso dizer-te tudo. Preciso que me ouças. Eu adoro-te mas vamos entrar em mundos diferentes. Diferentes do nosso, diferentes de nós. E não é justo negar-te essa experiencia. Não ia aguentar que te sentisses preso a mim e um dia encontrasses alguém que te podia fazer feliz e me culpasses por não teres tentando essa felicidade.
O Cláudio abraçou-me, beijando-me a nuca.
-Adoro-te. – Murmurou, afagando-me o cabelo.

Passei as mãos pelos braços, num abraço frio de conforto. Peguei os garrafões que estavam pousados junto dos meus pés e avancei, na busca da luz e do calor da fogueira que me esperava.
Quando cheguei junto do grupo o jantar já estava a ser servido.
-Estava a apensar que tínhamos de chamar os bombeiros. Tanto tempo? – Brincou o meu irmão.
Sorri-lhe de volta, tentando limpar por completo as imagens e as vozes que durante minutos me acompanharam."


                                      In: "Passos nas Nuvens"

21 de fevereiro de 2013

Ainda Dói.

Dói.
Dói olhar-te nos olhos. Prender-me nessa cor tão tua, tão nossa.
Dói ver-te sem te poder olhar e mais ainda quando tu olhas sem me ver.
Dói. Uma dor tão profunda que faz eco no meu peito.
Dói a tua ausência e mais ainda a indiferença da tua presença.
Dói o som da chuva, lembrando-me de quando estavas aqui.
Dói a luz da lua, sorrindo como me sorrias.
Dói ver as estrelas, o brilho do teu olhar.
Dói ver o meu reflexo nos teus olhos, o teu olhar vítreo e ausente.
Dói saber que me procuras na multidão, tal como te procuro a ti.
Dói desviares o olhar quando finalmente me encontras.

Mas mais do que tudo, dói recordar.

Dói lembrar o tom castanho dos teus olhos, dói a recordação de quando nos olhávamos com tamanha paixão que o resto do mundo se tornava pálido e indefinido.
Dói saber que o vazio que agora sinto, foi outrora totalmente preenchido por ti.
Dói não me ver nos teus olhos, não me sentires na tua pele.
Dói lembrar o teu sorriso quando nos víamos no meio do mundo, tornando-nos no mundo um do outro.
Dói relembrar como fixavas o teu olhar em mim, fazendo desaparecer tudo ao nosso redor. A forma como sorrias…
Dói. Tudo dói por não saber se também eu te causo dor. E dói imaginar que te possa doer.
Dói tentar tornar a tua ausência, o vazio, num mero eco, em mero fumo, em mera recordação.
Dói a luta dentro do meu peito, entre o coração e a mente. Dói a luta entre a mente e os meus lábios, para não pronunciar o teu nome enquanto sonho.
Dói. Por mais que negue, dói.

Mas mais que tudo, dói o simples facto de doer. Porque sei que já devia ter parado a dor há muito tempo. Porque sei não haver mais razões para doer. Porque já não devias ser recordação, eco, vazio ou fumo… Porque já não devias ser dor.

Mas dói.


31 de janeiro de 2013

Passos nas Nuvens 5

 O moinho permanecia de pé, imponente, já sem uma única viga de telhado, mas de paredes intactas. A azenha tinha já sido parcialmente destruída pelo caudal do rio que subia nas fortes chuvas de Março.
Calcando as silvas e trepadeiras que dominavam o chão e a porta, avancei. Afastei a porta, que se encontrava apenas encostada ás pedras da parede e entrei.
O espaço, iluminado pela lua que brilhava por cima do telhado inexistente, tinha sido tomado de assalto por trepadeiras.
Usei a luz do telemóvel para me guiar por entre os barrotes caídos e cobertos de musgo e fungos.
Tacteei a parede húmida e viscosa, arrancando heras até encontrar, inalterável, o meu nome gravado.
Passei os dedos nos sulcos, relembrando as palavras do Cláudio naquela noite: “Ficas gravada aqui também, tal como estarás sempre gravada no meu coração.”
Uma promessa feita por duas crianças que começavam a descobrir a paixão. Juras feitas nas lágrimas e nos beijos. Juras que eu desejava serem eternas.
Mas a realidade atingiu-me em cheio no peito.
Abracei-me. Tremendo, apertei as costelas com força a tentar reprimir os gritos, os urros de raiva. Mas de nada me valeu.
As lágrimas caíam, grossas e cheias de corpo, cheias de dor e intermináveis.
Gritei até me doer a garganta e o peito.
Gritei até não conseguir mais respirar sem sentir pontadas de dor nas costelas. E depois parei.
Tudo parou. O vento parou, parou o ribeiro, a minha respiração. Não se ouvia um ruido, não se via um movimento. Ficou tudo calmo como o céu depois da tempestade.
Pisquei os olhos, agora acostumados a semiobscuridade do espaço.
Um raio de luz partia do meu telemóvel, iluminando um caminho onde pequenas partículas suspensas dançavam, numa dança sem ritmo próprio.
Tinha as calças todas molhadas do tronco onde me sentara.
Retirei o papel dobrado que tinha na carteira e auxiliada por uma fresta na parede onde encaixei o telemóvel a iluminar-me, comecei á procura de qualquer resposta capaz de me acalmar, contemplada nas folhas que tinha nas mãos.

“Erica, sei que nada do que te diga poderá minimizar o sofrimento a que te expus. Mas acredita que a dor que sinto, o ódio que me assola é por si só, pena para tamanho crime.
Acredita que a dor que vi nos teus olhos, me trespassou com a força de mil tiros.
Senti-me porco, sujo, não só por mim, mas acima de tudo por saber ter-te feito sentir dessa forma. Por saber ter destruído a perfeição que em ti existe.
Queria ter conseguido falar antes, explicar que estou de compromisso, numa tentativa de fechar a ferida gravada com a tua ausência.
Uma ferida com a forma do teu nome gravado em mim, como em tempos o gravei no velho moinho.
A Sara foi-me apresentada pelo meu pai.
É filha de um sócio de uma empresa que o meu pai pretende comprar.
Saí com ela, a pedido do meu pai, pela primeira vez depois de regressar no natal. Depois de regressar do nosso mundo, de me ter perdido nos teus braços.
Estava frágil, tu ocupavas os meus pensamentos de dia e de noite eras presença constante nos meus sonhos.
Não te servirá com certeza de consolo, mas preciso confessar-te que era em ti que pensava quando estava com ela.
Eram os teus lábios que eu saboreava, o teu corpo que eu tocava…
Vivia com o substituto de uma droga que me viciava. Que nunca me saciava, nunca me servia.
Deixei de ouvir a tua voz, as nossas conversas eram cada vez mais raras, as mensagens foram escasseando e a Sara estava lá. Presente, carinhosa. Colmatando o espaço que ficara entre nós. Sei que não me queres ouvir falar dela, nem eu tao pouco tenho mais o que falar.
Nunca te quis magoar e parto agora com a certeza de uma dor que me vai seguir para onde quer que eu vá.
Fui fraco. Fraco por aceitar um compromisso com alguém que apenas minimiza a dor de não te ter. Fraco por não ter tido coragem de te contar. Fraco por não lutar por uma resposta tua, por não ter lutado por ti.
Mas acima de tudo, fraco por ter desejado uma última vez ter-te nos meus braços, sentir a tua pele, devorar os teus beijos, sem que tu soubesses que seria uma despedida.
Não ocupes o teu coração com odio por mim, peço-te. És melhor do que isso, perfeita de mais para isso.
Se esta carta não servir para acalmar a tua mente, silenciar as tuas perguntas, que sirva para teres a certeza que a tua dor é partilhada. Que o teu nome estará sempre gravado no meu peito, mantendo os golpes profundos a sangrar.
Acima de tudo que sirva para saberes que não te podes culpar de nada. Que não te podes culpar de eu, mesmo sendo um fraco, te adorar como adoro.
Adoro-te”


In "Passos nas Nuvens"