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12 de junho de 2012

Pintar em Palavras 1

" Era apenas uma no meio de tantos.
Para quem passasse não seria nada mais que outra pessoa. Um número no meio de tantos outros.
Sem rosto, sem vida.
Transparente talvez aos olhos dos que passavam. Mas se alguém prestasse atenção veria nos seus olhos uma tristeza que trespassava qualquer tentativa de indiferença.
 Enquanto para todos o dia apenas começara, para ela parecia estar a aproximar-se do fim.
Parecia o fim de tudo...
Parada no passeio, sentindo de quando a quando o roçar dos corpos dos que passavam, apressados para o trabalho. Dos olhos escorriam lágrimas, as lágrimas que já não conseguia conter.
Tinha começado a chover. A chuva confundia-se com as lágrimas e dava-lhe uma sensação de estar viva. Uma sensação já quase desconhecida para ela.
Apetecia-lhe voltar para casa. Voltar para o que lhe transmitiria alguma segurança. Mas faltava-lhe a coragem. A coragem para se enfrentar a si própria.
Tinha lido há pouco um livro que dizia: “para nos encontrarmos primeiro temos d nos perder.” E ela que já há tanto se sentia perdida...
A chuva começava a enregela-la. Passo a passo foi avançando, agora por entre o aglomerado de chapéus-de-chuva dos mais atrasados.
Entrou num café. Sem escolher nem ver o nome ou a aparência. Entrou simplesmente para se abrigar e beber um café.
A empregada atendeu o pedido. Ao voltar com o café reparou no seu olhar. Vazio e distante...
-Sente-se bem?
A pergunta parecia vinda do fundo d uma gruta.
Como desperta de um transe ela olhou a empregada nos olhos.
-Desculpe?...
-Era só para saber se se sente bem? Parece tão pálida!
No reflexo da janela, repara. Realmente parece pálida. Nem se reconhece.
-Sim, está tudo bem.
Bebe o café, prepara-se para pagar e para ir embora.
-Já está pago!
-Como está pago?! Quem pagou?
Olha a toda a volta mas não encontra ninguém conhecido.
 -Foi um rapaz na mesa do canto, mas já saiu. Deixou isto para si. Espero que seja algo que a anime!
A empregada deixou no balcão um cartão pequeno que ñ passava d um pedaço da capa de um caderno preto. Escrito nele a lápis: “ Gostaria de pintar o seu retrato em palavras. Amanhã á mesma hora? “   "

In: Pintar em Palavras

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