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15 de junho de 2012

Recuso

Recuso-me a ser
Apenas uma ideia
De sonhos construída e desfeita.
Recuso ser
Apenas mais uma mancha de tinta preta
Um projecto em linhas escrito.
Recuso a fotocopiadora
Que me tentam impor
Não serei jamais
Um borrão sem cor
Ser cópia assumida
Do reflexo da sociedade
Presa a uma serigrafia
Que embeleza a cidade
Recuso-me.
Não permito que me julguem
Pela capa que apresento
Sem abrirem as páginas
E me lerem por dentro
Julgando apenas
O que julgam ser real
Sem avaliarem
A minha alma imortal
Recuso-me.
Tentaram imprimir
A ideia que tinham
Decidido como verdade
Sem contemplações,
Filosóficas reflexões
Por simples vaidade.
Arrumada em caixas me mantinham
Mas eu gritei
Recuso-me, não serei
Apenas mais um artigo
Folhas de um jornal antigo
História que já toda a gente leu.
Cada um decidiu
Criou opinião, que assumiu
Como verdade sobre quem sou
Mas de todos os que leram
Apenas a sombra ficou.
Marcadas na lombada
Do livro que me afirmo
As mãos manchadas de tinta
Do destino.
Debato-me com os tinteiros
De cores indefinidas
Contra quem de mim pensa que sabe
Mas esconde as suas vidas
Recuso-me.
Não deixo que martelem
As teclas que me definem
Que façam copy paste
Que depois me recriminem.
Recuso a folha em branco, que me estendem
Na tentativa de eu a preencher
Depositar nela o que sou
Ser usada como referencia
Nos discursos que alguém citou
Recuso-me.
Não mais darei desculpas
Quando em mim não residem as culpas
Não serei mais um texto apagado
Recuso-me a ser
Um livro acabado.

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