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19 de dezembro de 2012

Palavras Tristes

Foi-me dito que o que escrevo é triste.
Talvez.
Não sou capaz de escrever poesia sobre as rosas, as pedras, a chuva. Não as sinto. Quer dizer, sinto sim, na superfície da minha pele. Sobre a pele e não dentro dela, não dentro de mim.
Escrevo apenas sobre o que sinto. De dentro para fora e não de fora para dentro.
É triste porque dói. E o que dói é o que sinto. Depois passa… Depois volta…
Tento ao máximo prender as palavras entre os dedos, como um fio de uma linha muito fina, que receio partir ao tentar tece-la em versos.
Versos que sinto correr dentro de mim. Palavras que me pulsam nas veias e correm por todo o meu ser. Palavras que não suporto ter na corrente sanguínea. Que ameaçam transformar-se em coágulos se as não libertar.
Mas não pensem que menospreze a rosa, a chuva ou as pedras.
Reconheço nelas a correspondência ao mundo.
Invejo de verdade quem as sente, quem as canta, quem as vive.
Quem nelas vê pureza suficiente para as decompor em palavras.
Quem encontra a harmonia das suas formas, a suavidade das suas pétalas e o brilho das sua gotas.
Não pensem que não as acho belas, capazes de iluminar uma página em branco. Pudera eu conseguir faze-lo. Senti-lo no peito e condensar a sua magnitude em versos.
Mas não consigo. Tenho em mim tanta voz que grita, tanto mundo misturado, tantas vidas decompostas. Não consigo espaço, o silêncio necessário para as odes que a rosa, a chuva ou as pedras merecem.
 Não consigo encontrar outra pedra, que não as da calçada, nos caminhos que percorro, tanta vez sozinha, tanta vez no escuro, por entre sons que me furam os tímpanos e me perfuram a alma.
Não há flores nos jardins dos meus mundos. Secaram, foram arrancadas cedo de mais, simplesmente desapareceram, ou não nasceram. O terreno dos meus mundos talvez não seja fértil para as flores.
E a chuva? Essa sim é força constante. Mas não cai do céu. Provem dos olhos, dos rostos que povoam os meus sonhos. Jorram em par, por rostos tolhidos de dor.
Invejo quem vê a luz, o brilho da água, que toca a sedosa capa das pétalas da rosa. Eu da agua sinto o seu frio gélido, a dor das lágrimas. Da rosa sinto os espinhos, o seu perfume azedo de quando secam.
Não escrevo do que não sinto. Da mesma forma que não posso descrever o que não vivo.
Não posso dar mais do que dou, se já dou tudo o que tenho.
São palavras tristes? Talvez sejam.
Mas são as únicas que tenho para dar.

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