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12 de dezembro de 2012

Sopro de Luz 11

    "Com a mão afastou levemente os ramos que lhe tapavam a visão.
Tinha passado mais de uma hora desde que saíra a correr do quarto do hospital onde estivera junto de Bruno.
Agora, sentada num banco de jardim no exterior do hospital, respirava fundo pela primeira vez nessa semana.
Tentava, em vão, lembrar-se de algo que lhe fosse útil, de tudo o que aprendera ao longo de 5 anos de curso.
 Coma. Uma palavra tão pequena com um peso tão grande. Ainda lhe ecoava nos ouvidos o som da palavra. Revia na mente, como que em câmara lenta, o movimento dos lábios do medico ao proferi-la. Já tinha passado uma semana? Como podia?
Eliana estava a meio de uma prova, quando foi chamada ao gabinete do orientador de tese.
-Eli, tenho más notícias para te dar. S não fosse um assunto tão serio não te mandaria chamar, mas assim… ligaram do hospital…
Eliana começa a transpirar, só o som da palavra hospital trazia lhe á memória, o ainda presente cheiro a desinfetantes e as paredes de cor creme, sem vida, que ainda há tão pouco tempo tinha enfrentado. A avó tinha falecido recentemente, depois de um mês de internamento. Eliana ia quase todos os dias depois das aulas para junto dela, ate ao final da hora das visitas. Um dos enfermeiros fora seu colega de escola, pelo que sempre que estava de turno permitia-lhe ficar mais tempo. Para quem tinha tanta aversão a hospitais, tinha sido uma experiencia de força de vontade e puro amor.
-Eliana. Estas a ouvir-me? O Bruno teve um acidente!
-Como? O Bruno?.. Que aconteceu?
-Estava-te a dizer, ligaram do hospital. Parece que ele vinha a conduzir a caminho da universidade e um camião não parou no semáforo… o carro foi projectado contra uma árvore da berma…
-Mas… não pode ser. Ele é sempre cuidadoso… põe sempre o cinto assim que entra no carro… ele esta bem não esta? Tem de estar!
-Vai buscar o teu casaco e as tuas coisas. Vou contigo ao hospital. Anda nem argumentes. Vamos falar com o médico.
Na viagem de carro ate ao hospital Eliana vira pelo canto do olho uma lágrima no rosto do professor Jorge. Ou pelo menos parecia, já não tinha certeza de nada do que a rodeava.
Jorge tinha 58 anos. Era professor de psicologia das organizações. Tinha trabalhado em locais de risco durante 10 anos antes de ir para a universidade assumir o cargo de director do departamento de psicologia. Eliana tinha criado logo grande afinidade com ele. Mas também, era extremamente fácil. Jorge tinha um sorriso caloroso e abrangente. Justo, divertido e muito centrado, sempre fora o professor favorito da maioria dos alunos.
Participava em jantares de curso, levava os alunos com ele a trabalhar no campo de acção, era defensor da aplicação de conhecimentos no terreno e não por exames teóricos.
Num desses jantares tinha levado um amigo de longa data e o filho deste. Bruno, professor estagiário na universidade, tinha terminado o curso de antropologia vertente de ensino e investigação e estava agora em estágio final na universidade.
Eliana tinha ficado, como sempre, sentada ao lado de Jorge, com Bruno mesmo à sua frente. A empatia tinha sido imediata. Bruno era moreno, de olhos castanho  esverdeados, cabelo liso ligeiramente comprido em algumas pontas. Não muito alto, nem muito entroncado, uma beleza típica, um sorriso aberto e contagiante. Mas fora o seu olhar enigmático e a sua forma eloquente de falar que a cativaram.
Desse dia em diante começara a troca de mensagens. O bom dia obrigatório ao inicio do dia fazia Eliana sorrir durante toda a manha. Bruno insistia em convida-la para um café mas Eliana recusara sempre, embora desejasse voltar a encontrar aqueles olhos surpreendentemente secretos.
Um dia tinha recebido uma mensagem de Jorge a pedir para ir ao gabinete. Quando lá entrou era Bruno quem a esperava. Trazia uma rosa na mão, e oferecia-lhe aquele sorriso que a desarmava. Na mesa, ao lado do computador, tinha uma bandeja com café e chá. Perante tanta recusa de ir ao café, Bruno tinha trazido o café ate ela. Daí em diante passaram a almoçar juntos na cantina da escola. Eliana estava rendida e apaixonada.
Olhando agora para o lado, via o homem, a figura parental, que tinha proporcionado o encontro com o homem que tanta felicidade lhe trouxera e pelo qual se tinha apaixonado tão intensamente. Seria o mesmo homem, que agora, a conduzia para o sofrimento."

                                           In: Sopro de Luz


E assim começou um sonho, tornado palavras num papel...
Faz hoje 5 anos que comecei, e agora, que cresceram em mim todas as personagens, que convivo com elas como se de amigas se tratassem... estou a chegar ao fim. A um fim que ainda não conheço na sua totalidade.
Desejava que pudessem conhece-las tao bem como eu. Viajar com elas, lado a lado...
Poder partilhar um pouco de cada sorriso e cada lágrima!!
Aos que me tem ajudado posso apenas retribuir na forma de uma palavra "Obrigado".

Preparo-me mentalmente para a despedida desta realidade, já tao cravada na minha pele.
5Anos...
Já avisto as ideias finais de tal trama...Estou quase lá!


E em cada final um novo começo.
"Pintar em Palavras"
"Sopro de Luz"
"Passos nas Nuvens"
e
"..." já a fervilhar de ideias.


Obrigado a todos os que de alguma forma contribuem para que no meio dos gritos constantes da minha mente, eu ouça a voz doce que me segreda tantas vidas para eu contar.

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