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13 de dezembro de 2012

Sopro de Luz 12




"A verdade era que se sentia pequenina e insegura. Mergulhada na agora certeza que julgava ser real e no confronto com a duvida que se instalava.
Deixara que o seu coraçao acreditasse que poderia ter em David o conforto porque ansiava, que poderia ter encontrado na profundidade dos seus olhos, a matéria que necessitava para se reconstruir e sentir completa de novo.
As vozes tornaram-se gritos e Eliana tinha começado a escuta-las com gosto.
Deixara crescer nela uma vontade maior, uma luz que lhe soprava doces palavras de conforto.
E de repente, tudo se estilhaçara, como o vidro de uma fotografia para a qual tinha ganho gosto de olhar.
Saiu da casa de banho ainda com os olhos vermelhos do choro. Subiu vagarosamente as escadas para o palco e sentou-se no canto mais escuro, observando os grupos que se formavam pelo espaço.
Começaram o ensaio dez minutos depois.
Eliana sentia-se presa de movimentos, impedida de se deixar envolver pela cena, de mergulhar na personagem que representava.

...


Já fechada no quarto deu largas a sua tristeza. Estava mergulhada num mar de duvidas, medos e inseguranças.
Sentia na pele o cheiro daquele abraço, sentia nos lábios o gosto daquele beijo. E sentia no peito a culpa que não entendia. Não percebia se a mágoa era devido ao receio do que podia sentir ou por não saber o que David sentia. Ou o que Bruno poderia sentir.
Uma vez mais sentia o seu peito atravessar a carne e pairar sobre ela, numa aura vermelho sangue, observando e ponderando, na procura de respostas que não conseguia dar.
Sentia-se presa numa barricada feita de sonhos, onde á sua voltas os cadáveres dos seus pensamentos e recordações, repousavam. Onde cada duvida era um monstro raivoso, mandado pelos soldados inimigos,  pronto a ataca-la e devorar qualquer esperança.
Não se sentia merecedora de sentir. De respirar.
A confusão na sua mente fazia-a ouvir as vozes conflituosas que, em gritos de desespero, ainda a confundiam mais. Uma dor de cabeça forte como uma tempestade que arrastava nas água de um mar colérico toda e qualquer certeza.
 Eliana tomou alguns comprimidos, para ver se a ajudavam a melhorar da dor de cabeça e a dormir, para, por essa noite, conseguir apagar de si o calor dos braços e dos lábios que a prenderam."

In: Sopro de Luz

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